Dirceu Cardoso Gonçalves*
As mais de 4 mil horas de gravações de vídeo que a Polícia Federal informa – ao Supremo Tribunal Federal – ter recebido contendo os registros das imagens da invasão e depredação dos palácios da Praça dos Três Poderes são a esperança de que ali se encontre os elementos para identificar os desordeiros e analisar as omissões dos responsáveis pela guarda do s imóveis sinistrados e, ainda, dos servidores e autoridades a quem são subordinados. É indispensável apurar se, ao saber da possibilidade de invasão, os ministros da Justiça, do GSI e da Defesa informaram o presidente da República e qual a orientação dele recebida. E, ainda, se voltaram a comunicá-lo quando começou a invasão propriamente dita, quais as determinações que dele receberam para o controle da situação e, por fim, que providências adotaram. Não basta a demissão do chefe do GSI (Gabinete de segurança Institucional), se ficarem provadas omissões de outras instâncias.
De posse das imagens, a inteligência policial terá condições de conhecer e analisar o comportamento dos guardiões frente aos invasores e chegar às razões que os levaram a não fazer a contenção e nem chamar reforço, uma ação das mais corriqueiras em qualquer esquema de segurança.
Era inimaginável a vulnerabilidade que restou provada nas sedes dos três poderes da República, supostamente um dos lugares mais guardados do País. Principalmente por ser ali o centro do poder que, além das autoridades e suas equipes, guardado por um batalhão das Forças Armadas e por elevado número de agentes civis de segurança, suplementados pela força policial do Distrito Federal.
Não obstante o momento político tenso, onde o resultado da eleição era questionado e ativistas se encontravam acampados à frente dos quartéis, não havia qualquer justificativa para relaxar a guarda a ponto dela não reunir condição de reação, como acabou ocorrendo. É preciso agora, com as provas da filmagem mais o trabalho investigativo, chegar aos executores, incentivadores e custeadores da baderna, conhecer as motivações e aplicar-lhes as devidas penalidades, tanto para redimir o Estado e a Sociedade quanto para desencorajar a repetição de novas rebeliões
É prematuro atribuir responsabilidades do ocorrido ao ex-presidente Jair Bolsonaro – que nem se encontrava no País – e nem a Lula, que dificilmente articularia o ataque ao próprio governo, mesmo que isso tivesse o objetivo de atribuir culpa ao adversário. Enredá-los nessa estória só faria sentido se as investigações levassem concreta e cabalmente a um deles.
Da mesma forma, os encarregados da segurança dos palácios têm de ser rigorosamente investigados e – se for o caso – processados e punidos na devida proporção das faltas cometidas. Há que se apurar, entre outros pormenores, a razão do alerta da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) quanto à possibilidade de invasão não ter produzido o reforço da segurança e outras medidas protetivas do patrimônio.
Também é de se aguardar que o esclarecimento proporcionado pelos vídeos das câmeras de segurança sirvam para identificar os reais participantes do vandalismo e os outros, sem culpa provada mas ainda detidos sejam liberados ou, pelo menos, possam responder o processo em liberdade e na primeira instância porque, como povo, não possuem foro privilegiado.
Por serem inusitados, os episódios de 8 de janeiro desencadearam a reação viral da Justiça, encarnada pela pena do ministro Alexandre de Moraes. A repressão exacerbada, embora justificada pela gravidade dos acontecimentos, sofre questionamentos pelo País, viciado na leniência das autoridades e impunidade dos criminosos e contraventores. É necessário formar as culpas com toda brevidade, cobrar os responsáveis e, por fim, devolver a normalidade à Nação. Longe de suposta ditadura ou do autoritarismo, mas nunca se esquecendo da máxima que diz: o preço da liberdade é a eterna vigilância…
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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