Dirceu Cardoso Gonçalves*
Enquanto vêem passar à sua frente as escaramuças, bravatas e a insensatez dos integrantes ou simpatizantes do governo que terminou e do que começou a 1º de janeiro, muitos brasileiros ainda não atentaram para a chegada da Inteligência Artificial, dispositivos de informática que deverão mudar radicalmente muitos procedimentos de trabalho, estudos, vida e sociedade. Diferente daquela preconizada pela ficção científica – onde o computador assumiria o lugar do humano e este corria o risco de ficar sem ter o que fazer – a ZapGPT chega até nós pelo WhatsApp e permite o bate-papo com a dita Inteligência Artificial, onde podemos fazer perguntas e, pelo próprio aplicativo, gerar textos sobre os assuntos pesquisados. Detalhe importante: o serviço já está disponível e tem três níveis de assinaturas: Grátis (free), Pró (R$ 29 mensais) e Enterprise, com custo sob consulta. O acesso é fácil e autoexplicativo.
O ChatZPT atraiu 100 milhões de usuários só no mês de janeiro. Isso levou a Microsoft e o Google a também lançarem seus serviços de IA. A primeira deve investir US$ 10 milhões em inteligência artificial aberta; e o Google já ativou o chat denominado Bard, que também responde a perguntas. É o conhecimento cada dia mais disponível a pesquisadores, profissionais e estudantes. Uma verdadeira revolução, tão grande ou talvez maior do que as mudanças que a informática e as redes de computadores já causaram ao processo produtivo nas últimas quatro ou cinco décadas, quando engoliram processos arcaicos e mudaram o hábito e as necessidades da população, que hoje pode estudar e trabalhar sem sair de casa e, principalmente, para instituições distante milhares de quilômetros de onde vivem.
Lembro-me que, quando menino, ouvia música através dos discos “bolachões” confeccionados com goma-laca que, para quebrar não precisavam cair, bastava tombar sobre a mesa. Eram de 78 RPM (rotações por minuto) e, quando recebiam poeira, agregavam às gravações um chiado característico, reproduzido pelo toca-discos. Ví quando chegaram os compactos de 2 ou 4 músicas, e os long-plays, inicialmente com 12 faixas (seis de casa lado) que, funcionavam em 33 ou 45 RPM e, por ser de plástico, eram praticamente inquebráveis. Depois vieram os CDs, DVDs e hoje estamos no streaming. Assim como a música, as imagens de filmes e TV também ganharam nova morada que não as fitas cassete de outrora. As novas gerações pouco sabem a respeito.
Toda a tecnologia requer adaptação. Quem não acompanhou sua chegada e evolução, teve e terá dificuldade. Hoje vemos os meios de comunicação em grande revolução, que vai do papel ao digital e dos tradicionais AM, FM, UHF, VHF e outros, a formatos que cabem dentro da rede mundial de computadores. Esta, a cada dia que passa, se disponibiliza a maior público e agrega equipamentos de menor custo e maior mobilidade. É o Mundo se transformando.
Em todos os setores, conseguimos identificar a presença do computador e seus periféricos fazendo a diferença. A principal delas é que as distâncias intercontinentais deixaram de existir porque, só nosso computador pessoal ou até do telefone celular, somos capazes de levar ou receber informações aos países localizados do outro lado do mundo. Os sistemas democratizam a informação e isso tem provocado até as grandes alterações políticas ao redor do planeta. A polarização política que vivemos no Brasil, por exemplo, é resultado do conhecimento que a rede proporciona e da oportunidade que ela dá para os segmentos discutirem seus interesses e aspirações.
Para tranquilidade dos humanos, pelo menos por enquanto, a Inteligência Artificial não cria a autonomia da máquina. Embora seus processos sejam avançados, dependem sempre do homem para a tomada das decisões. É preciso, no entanto, que o indivíduo seja devidamente educado para manejar esses sistemas. Os currículos escolares e os professores precisam estar atualizados a respeito, as empresas conscientes dos novos recursos e o pessoal recebendo a cultura da IA. Todo o resto tende a tornar-se obsoleto e, por essa razão, ineficiente. Estamos chegando muito perto daquele momento que décadas atrás se previa como expectativa futurista. Quem não tiver noções de aritmética e de informática (agora também de Inteligência Artificial) correrá o risco de não conseguir nem de dar a descarga no banheiro da própria casa...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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