O posicionamento do governador paulista, Tarcísio Gomes de Freitas, na reunião convocada na segunda-feira pelo presidente Lula, merece toda reflexão da comunidade e, principalmente, dos integrantes do Poder. Sua fala, breve, de condenação aos atos de invasão e depredação dos palácios públicos e o pedido para a mais completa e justa apuração dos fatos, precisa ser levada em consideração. É só dessa forma que o País poderá voltar à normalidade e os governos – federal, estaduais e municipais – a cumprir suas missões e obrigações assumidas com o povo. Temos todos de olhar para a frente e especialmente para os devere s que aguardam as ações e providências de cada um dos agentes da sociedade, sejam eles os eleitos ou os nomeados para postos de relevância no Legislativo, Executivo e Judiciário.
É importante olhar para a frente porque tudo o que ficou no passado não serve de parâmetro, já que as variáveis do momento são novas e o quadro de necessidades também. Em vez de buscar paralelos no passado e sair à caça de supostos transgressores e espetacularizar essa atividade, governo e autoridades devem apurar seriamente o ocorrido no fatídico 8 de janeiro e, com técnica e inteligência, buscar os envolvimentos para, através do devido processo legal, chegar aos responsáveis e propor ao Judiciário, na instância estabelecida pelo ordenamento processual, as medidas punitivas que lhes pareçam cabíveis.
O presidente Lula, seus ministros, auxiliares e correligionários e também os seus adversários devem se conter para não tumultuar ainda mais o quadro, que já é adverso. Congressistas, membros do Judiciário e afins têm o dever da discrição para que seus trabalhos conduzam ao melhor desfecho. Todos devem agir com cautela e impessoalidade. Evitar a leviandade de acusar (ou especular) sem provas. O açodamento é o principal inimigo nesse momento e pode levar a enganos cruéis. Não creio que só o governador do Distrito Federal, o ex-secretário da Segurança Pública e o comandante das Polícia Militar devam ser punidos pela omissão que resultou nos distúrbios. É preciso verificar, também onde estavam e como agiram, naquelas cruciais horas que antecederam os eventos, as estruturas responsáveis pela segurança e guarda da Presidência da República, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal que, salvo melhor juízo, também tinham obrigações a cumprir. Há que se saber, inclusive, como agiram a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e os serviços reservados das instituições militares. Não para liminarmente incriminá-los, mas para se ter o quadro geral do monitoramento dos acontecimentos ou da falta dele.
É prematuro – e até desleal – dizer que Bolsonaro ou Lula teriam algo de responsabilidade no ocorrido. Até porque seria muito difícil fazer provas disso. O concreto que se tem hoje é a necessidade de apuração – a mais ampla possível – das imagens disponíveis e o indiciamento dos que aparecem vandalizando as instalações. O Ministério Público e as polícias têm meios para investigar e chegar a outros envolvidos, inclusive a financiadores e facilitadores de tudo o que ocorreu. Porém, estes não podem ser simplesmente presos ou sofrer outras sanções sem o devido processo legal. Se ocorrer, se caracterizará o estado de ex ceção, o que não contribui em nada para a normalização do País.
Esperamos que todos baixem a bola e permitam que os responsáveis pela investigação avancem com seu trabalho e cada envolvido identificado tenha o mais justo julgamento e penalidade. Que haja o bom senso de todos para se evitar o espetáculo, a exploração política e a instabilidade.
Os estúpidos ataques tiveram o condão de colocar todos os agentes políticos e os três Poderes da República a sentarem-se à mesma mesa. Oxalá tenham eles o equilíbrio e o bom senso necessários para acabar com a polarização política que tanto mal tem feito ao Brasil na última década. Aproveitem essa oportunidade, senhoras e senhores!!!
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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