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Mortes políticas, flagelo que cresce na AL

Dirceu Cardoso Gonçalves*

O assassinato de Fernando Villavicencio, candidato presidencial do Equador, que levou três tiros na cabeça quando saia de um comício, é um claro alerta de insegurança aos concorrentes de eleições em toda a América Latina. Desnuda a louca opção de impedir a ascensão do adversário pela força e poder da pólvora. Permeado pela ação do crime organizado, guerrilhas e outros males e refém da luta ideológica que chega a sonhar até com sua transformação numa federação ao estilo da liquidada União Soviética, o continente tem o processo eleitoral cada dia mais violento e isso torna incerto, contestado e inseguro o resultado, posse e exercício dos mandatos.
O procedimento padrão seria todos os países de relações diplomáticas com o Equador e respectivas comunidades clamarem pela mais severa apuração do ocorrido e entrega dos responsáveis à justiça. Mas não sabemos se nós, brasileiros, temos força moral para fazer exigências dessa ordem, já que até agora não fomos capazes de elucidar os fundamentos da facada desferida por Adélio Bispo em Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e nem para esclarecer as mortes e apresentar os assassinos dos prefeitos Celso Daniel (Santo André/SP) e Toninho do PT (Campinas/SP), além de outras suspeitas de lideranças e militantes políticos. Tivesse Bolsonaro morrido, a história do Brasil de 2019 a 2022, espoca do seu governo, teria sido diferente. Os dois prefeitos mortos eram líderes e morreram, quando poderiam ter galgado o governo do Estado ou até a presidência da república. Ainda é tempo de descobrir quem comandou essas atrocidades.
Ao mesmo tempo em que não esclarecemos os crimes políticos aqui ocorridos, vemos crescer a polarização. Os outrora adversários comportam-se como inimigos, fustigam-se mutuamente e criando o clima propício a atos estúpidos como os de 8 de janeiro que, oportunisticamente, os políticos buscam colocar a responsabilidade nas costas dos adversários.
O certo é que estamos para começar o processo das eleições municipais do próximo ano dentro de um perigoso clima de contenda. As desavenças das eleições do ano passado sobreviverão e têm a tendência de poder influenciar até 2026, para quando estão marcadas as futuras eleições de presidente da República, governadores e e parlamentares federais e estaduais.
Não dá para esquecer que nosso país contabiliza 2053,mortes de motivação política desde a anistia (1979), sendo 327 delas posteriores ao assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido em março de 2018, no Rio de Janeiro. Os levantamentos dizem que a cada seis dias morre um político, número que se considera intolerável.
Espera-se que, além das providências das autoridades – policiais, judiciárias e do governo pelo esclarecimento dos crimes e punição dos responsáveis em toda a sua extensão, também haja a diminuição das pressões que levam a militância a cometer desatinos que também se tornam crimes e servem única e exclusivamente para deslustrar a política nacional. Que, num futuro muito próximo, a morte de Marielle Franco esteja inteiramente apurada e seus executores cumpram as respectivas penas. E que haja um esforço para identificar os mandantes do crime de Adélio contra Bolsonaro.
Todos os envolvidos no processo político têm o dever de lutar pelo deslinde dos crimes e, mais que isso, pela pacificação da política nacional. E a única forma de pacificar é a anistia política que zere todas as denúncias e permitam o começo de uma vida nova e mais saudável. Só isso poderá evitar o colapso e a volta ao estado de barbárie a que o atual quadro tem todas as credenciais para nos conduzir.

*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
aspomilpm@terra.com.br

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