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O autismo é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades na interação social. Além disso, podem ser observados sintomas como hiperfocos, dificuldades sensoriais e rigidez cognitiva, como explica o neuropediatra Eduardo da Silva.
Agência Brasil
Na quarta-feira (02/04), foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data, instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2007, busca aumentar a compreensão sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista), explicar sobre os direitos das pessoas autistas, promover a inclusão social e combater os estigmas.
O que é Autismo
O autismo é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades na interação social. Além disso, podem ser observados sintomas como hiperfocos, dificuldades sensoriais e rigidez cognitiva, como explica o neuropediatra Eduardo da Silva.
Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Academia Americana de Psiquiatria), o TEA é classificado em três níveis, definidos pelo grau de suporte que a pessoa necessita, tanto para atividades diárias, quanto na comunicação. São eles: nível 1 (suporte leve), nível 2 (suporte moderado) e nível 3 (suporte elevado).
Crianças e adultos
Silva também diz que os sinais e sintomas do autismo variam conforme a idade. Em crianças, por exemplo, podem ser observados atrasos na fala, estereotipias, caminhar nas pontas dos pés e seletividade alimentar. Já nos adultos, os comportamentos tendem a se manifestar por meio de hiperfocos, com interesses restritos que geram dificuldades para iniciar ou manter diálogos fora de seu interesse. Além disso, há dificuldades em lidar com mudanças e compreender piadas ou ironias.
Atualmente, estima-se que uma a cada 100 crianças seja afetada pela condição em todo o mundo. Já no Brasil, com base nessa proporção, calcula-se que cerca de 6 milhões de pessoas estão no espectro.
Os problemas de cada um
A professora do Instituto Federal de Brasília Bruna Lourenção Zocaratto tem 40 anos e há apenas dois conseguiu receber o diagnóstico. Desde a infância, ela tinha problemas com a textura dos alimentos e apresentava sobrecarga sensorial com barulhos altos. Além disso, sentia esgotamento mental após interações sociais e precisava se isolar para recarregar as energias.
Apesar de um diagnóstico tardio, devido a fatores como o mascaramento dos sintomas para suprimir os sinais do TEA, saber de sua condição trouxe alívio e autoconhecimento. Ela afirma que descobrir o autismo foi revelador e a fez entender sua singularidade. Por isso, para ela, o Dia Mundial de Conscientização pode ser uma oportunidade para outras pessoas também compreenderem o transtorno.
Luta implacável
No entanto, Bruna destaca que a conscientização deveria ser uma luta cotidiana e implacável, e que apenas um dia não é suficiente para a magnitude dos problemas que ainda precisam ser solucionados.
Direito dos autistas no Brasil
Para garantir o direito das pessoas com TEA, o Brasil conta com leis que asseguram o acesso à saúde, educação, ao mercado de trabalho e a tratamentos adequados. A Lei Berenice Piana (12.764/12), por exemplo, foi a primeira norma voltada para pessoas que estão no espectro e criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Essa lei determina que o autismo é reconhecido como uma deficiência, para todos os efeitos legais, e garante direitos fundamentais, como o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional, incluindo terapias, o acesso a medicamentos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), nutrição adequada e o incentivo à inserção no mercado de trabalho. Além disso, proporciona o acesso à educação, previdência e assistência social.
A Lei Romeo Mion (13.977/20), por sua vez, institui a criação da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. O documento, emitido gratuitamente, procura facilitar a identificação, garantir acesso a serviços públicos e privados, e propiciar prioridade no atendimento, especialmente nas áreas de saúde, educação e assistência social.
Custo elevado
O neuropediatra Eduardo da Silva destaca que a principal dificuldade enfrentada pelas famílias de pessoas que estão no espectro autista é o custo elevado do tratamento que, em algumas regiões do Brasil, não está disponibilizado no SUS ou, quando está, tem poucas vagas e uma longa fila de espera. Segundo o Ministério da Saúde, o SUS conta com 300 Centros Especializados em Reabilitação distribuídos em todo o território nacional. Além disso, desde 2023 o autismo faz parte da Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência.
Níveis
O médico destaca que as crianças que se encontram nos níveis mais severos da condição necessitam de auxílio para realizar atividades diárias e ficam dependentes de um cuidador.
Pensando nisso, um grupo de pais de pessoas autistas criou a Abraci (Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção), para dar suporte às famílias que não têm rede de apoio e não conseguem encontrar suporte e terapias adequadas para os filhos. Dessa forma, a iniciativa atende crianças com TEA e suas famílias e oferece tratamento gratuito no Distrito Federal.
Viver bem
Segundo uma das fundadoras, Lucinete Andrade, a associação atende entre 120 e 150 pessoas autistas. Com a acessibilidade do tratamento, ela acredita no desenvolvimento das pessoas com TEA e na capacidade de que elas se tornem profissionais e vivam bem em sociedade. Ela destaca a necessidade da criação de políticas públicas efetivas voltadas para o TEA e aponta as filas extensas que as famílias enfrentam para conseguir fechar o diagnóstico e buscar tratamentos pelo SUS.