Luiz Pladevall (*)
“O Brasil, que se ergueu à beira do mar e em volta dos rios, também escreveu histórias de sede, de muita sede”, já apontava Graciliano Ramos, em 1938, na sua obra “Vidas Secas”. A constatação do escritor para o Nordeste brasileiro passou a se transformar em alerta para todas as regiões do País, inclusive para o Norte, banhado por uma das maiores bacias hidrográficas do planeta que, recentemente, enfrentou uma das piores crises hídricas da sua história.
As mudanças climáticas têm afetado diversas regiões do planeta. No Brasil, os processos de desertificação, por exemplo, tiveram avanço acentuado no centro-norte da Bahia, podendo se expandir para outras regiões do País, segundo estudo realizado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Situações como essa trazem impactos diretos no cotidiano das pessoas e na economia, afetando o agronegócio, bem como a produção de energia.
Por isso, a gestão hídrica é um assunto de extrema importância. É preciso ter um panorama da real situação desses recursos no País. O investimento em tecnologia deve ser um instrumento para o monitoramento constante das águas subterrâneas e meteorológicas. Com ferramentas adequadas, podemos adotar medidas de contenção em diversas regiões brasileiras nos momentos de estresse hídrico.
Em outra frente, a redução das perdas de água nos sistemas de abastecimentos dos municípios precisa avançar. O desperdício tem média nacional de quase 40% da água tratada, o mesmo volume que 7,8 mil piscinas olímpicas, todos os dias. Por isso, precisamos atender a meta estabelecida pela Portaria no 490 do Ministério do Desenvolvimento Regional, que prevê a redução de perdas para índices próximos a 25%.
Os operadores devem melhorar muito a gestão, transformando-a em “gestão eficiente”, por meio dos seus cadastros técnicos, e na busca do “cadastro operacional”. Precisamos ter certeza de como os sistemas estão operando. Somente assim, conseguiremos reduzir o volume de perdas.
A indústria pode ser estimulada a elaborar produtos mais eficazes na redução do desperdício nas casas e demais empreendimentos como torneiras econômicas, vasos sanitários em fases, entre outros. Já a educação ambiental precisa ser reforçada, orientando as famílias no bom uso dos recursos hídricos, bem como no estímulo para o reaproveitamento das águas das chuvas para uso em determinadas atividades do dia a dia das moradias.
O reuso de água precisa ser incentivado em vários outros setores como na agricultura, que faz uso intensivo desse recurso. Para isso, é preciso discutir uma legislação específica para a adoção de limites seguros de água de reuso no agronegócio.
As iniciativas somadas de cada setor podem multiplicar a economia desse recurso tão valioso para a nossa vida, o que faz uma grande diferença. A atitude de cada cidadão vai ajudar a reduzir o desperdício de água e garantir esse recurso para os períodos de escassez.
(*) Luiz Pladevall é engenheiro, vice-presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e presidente da Abes-SP.