Vejo, com preocupação, a repercussão sobre a dispensa dos militares que ocupavam cargos de confiança nas sedes governamentais de Brasília. Sinceramente, isso deveria ser encarado como rotina administrativa, pois os postos em substituição são de livre nomeação do presidente da República e não há o pré-requisito de serem ocupados por militares ou quaisquer outros profissionais. Nestas condições, quando muda o governo é habitual a troca da equipe, já que os cargos são de confiança e, principalmente numa eleição onde o ex-governante foi vencido, o raciocínio é que os ocupantes das assessorias são de confiança do ex-presidente e n&ati lde;o do atual. Certamente, os postos privativos de militares, os titulares estão sendo trocados por outros militares e que nos civis por outros civis, todos detentores da confiança do novo Governo. O fato de haverem muitos militares na estrutura deve-se em parte à origem militar de Jair Bolsonaro e não será de se estranhar que agora Lula busque boa parte do seu pessoal entre sindicalistas (como ele próprio foi no passado) e indicados do seu partido ou dos aliados.
Colocar reparo na dispensa dos militares em cargos de confiança é, no mínimo, uma sugestão disfarçada de cisão entre o Governo e as Forças Armadas. Isso é um desserviço à Nação e pode até configurar crime contra a Segurança Nacional. Os autores têm de ser investigados e, na medida das apurações, processados e punidos. O Governo tem suas obrigações e, pela Constituição, o presidente é o comandante-em-chefe das Forças Armadas, que são instituições de Estado e não de Governo. Colocá-los em suposta rota de colisão gera instabilidades e insegurança que podem atrapalhar o País. Nada im pede que o atual governante abra mão dos assessores egressos dos quartéis. Aliás, a mudança dos integrantes dos cargos de confiança é rotina nas três esferas de poder. Muda o presidente da República, o governador do Estado ou o prefeito municipal, o que assume o posto troca o time, podendo alguns sobreviverem, mas o mais comum é vir gente nova.
Muito se tem especulado sobre os militares. Tanto que, ao ter questionadas as urnas eletrônicas e contestado o resultado das eleições, os simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro acamparam na porta dos quartéis na esperança de alguma solução para suas dúvidas e aspirações. É difícil definir se fizeram o certo ou errado. O que vemos, no entanto, e que mais de mil deles restaram detidos e serão processados sob forte argumentação de terem praticado “golpismo’, “terrorismo” e outros males contra o País. Na verdade, a maioria apenas buscava solução para suas dúvidas quanto às eleições, que ainda não foram respondidas e se n&ati lde;o o forem até as próximas eleições, continuarão questionando o processo. Data vênia, não deveriam ser todos presos e processados, mas só os que, comprovadamente, participaram das depredações das sedes dos três poderes. Estes devem ser devidamente identificados, apurado o dolo ou culpa de cada um e instaurado o processo. Também não se deve esquecer de apurar quem do próprio Governo ou da administração se omitiu e, dessa forma, deu a oportunidade para que os prédios fossem invadidos e depredados. Não basta afastar o governador, prender o secretário da Segurança Pública e o comandante da Polícia Militar. Mais gente omissa deveria estar ao lado deles, até por questão de isonomia no decorrer dos incidentes.
Tenho clamado pela pacificação política, mas só vejo bombeiros que apagam o fogo com combustível em vez de usar água. É um risco ao País e a todos nós. Executivo, Legislativo e Judiciário, os três poderes instituídos pela Constituição, têm papel fundamental e precisam exercê-lo na plenitude, com a harmonia e a independência constitucionalmente estabelecidas. Se não o fizerem e a corda continuar sendo esticadas como tem ocorrido, chegará o dia do seu esgarçamento e aí todos sofreremos. Esse grande País precisa ser melhor tratado por todos os que detém alguma forma de poder. Estes não podem conduzir a desavença até o ponto em que o pov o venha a tenrar resolvê-la com as próprias mãos. Se ocorrer, os resultados serão catastróficos...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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