Assessoria
“Que notícia boa. O deputado Romanelli e os participantes deste projeto estão de parabéns. É uma vitória significativa e uma referência nacional”, disse o técnico agropecuário Filipe Russo, colaborador na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) no projeto que reconhece as raças de porcos nativos no Brasil, ao destacar a aprovação pela Assembleia Legislativa do projeto de lei de Romanelli que classifica o Porco Moura como patrimônio histórico, cultural e genético do Paraná.
O projeto de lei será sancionado nos próximos dias pelo governador Ratinho Junior (PSD) e assim como o incentivo e apoio ao plantio e produção da araucária e do bambu, duas outras leis propostas por Romanelli, são apontadas por especialistas e pesquisadores como referência na proteção e uso sustentável da árvore-símbolo do Paraná e da gramínea.
“Nosso propósito é que a genética da raça possa se perpetuar. A lei é um estímulo à criação da espécie, que tem uma carne totalmente diferenciada em relação ao suíno industrial”, disse Romanelli ao explicar que o projeto de lei resgata de forma estruturada a produção de porcos crioulos no estado e lembra que a raça estimulou o Ciclo da Banha no Paraná, na década de 1920.
Pureza genética
Romanelli também destacou na formatação do projeto a participação de produtores rurais, entidades de representação, UFPR, UEPG, Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Cultural, Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, IDR-PR e Adapar. “A legislação dará suporte ao processo de recuperação e preservação da espécie, para manter a pureza genética, com a devida segurança sanitária”, acrescentou.
Para Filipe Russo, considerado um dos principais guardiões do porco piau no país, as ações de resgate e conservação dos porcos crioulos são essenciais ao desenvolvimento da sustentabilidade e da agroecologia na agricultura familiar. “Os instrumentos legais constituem um marco para os movimentos envolvidos na promoção da segurança e soberania alimentar da população, ajudando a mobilizar outros agentes a reivindicar o mesmo reconhecimento para outras raças crioulas”, disse.
O resgate do Porco Moura foi iniciado em 1985 no Departamento de Zootecnia da UFPR pelo professor Narcizo Marques da Silva – responsável pelo registro oficial da raça, em 1990. Atualmente, o projeto é coordenado pelo professor Marson Bruck Warpechowski e também envolve a Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Trata-se de uma raça criada ao ar livre, sem confinamento, que chegou ao Brasil com as reduções jesuítas fundadas a partir de meados de 1500. Com peso adulto de até 300 quilos, é uma das maiores raças em tamanho no Brasil e sua carne tem características marcantes que atraem cada vez mais o interesse de chefs de cozinha e açougues gourmets. Atualmente, há rebanhos em ao menos 21 cidades, principalmente no Sul, Sudoeste, Campos Gerais, Centro e Região Metropolitana de Curitiba.
Porcos cioulos
Ainda em março deste ano, Curitiba sediou o 1º Encontro Brasileiro de Criadores de Porcos Crioulos com a participação de criadores das raças Moura, Piau, Caruncho e Caruncho Roxo, Nilo e Pirapetinga, técnicos, extensionistas, pesquisadores, além de chefs de cozinha e donos de restaurantes do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
No encontro, além da troca de experiências práticas, foram debatidas a organização dos criadores, normas técnicas para processos e produtos artesanais tradicionais, defesa sanitária, comercialização de animais, inserção dos produtos em nichos de mercado e outros temas.
“O Paraná aprovou seu projeto. Minas Gerais também tem projeto de lei para reconhecer a raça Piau. Outros estados, como Goiás, também avançam no resgate das raças nativas brasileiras. A produção tem alto valor na comercialização e é preferida pela cozinha especializada. Vale lembrar que o presunto considerado a melhor carne do mundo é espanhol e proveniente de porcos ibéricos, uma raça pura e nativa, alimentados ao ar livre com bolota de carvalho”, disse Romanelli.