Nove PMs envolvidos na ação conhecida como “chacina de Jundiaí do Sul” foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio e devem ir a júri popular


Da Redação
Uma situação, no mínimo insólita, está ocorrendo nas redes sociais, envolvendo alguns membros do 2º BPM de Jacarezinho, lotados em guarnições do Norte Pioneiro, que lideram uma iniciativa atribuída ao Capitão Aníbal Pires do Amaral Neto, comandando da 3ª Cia da Polícia Militar de Ibaiti, que estão fazendo uma campanha na internet para arrecadar dinheiro para pagar advogado que os defenda em um processo em que nove PMs devem ser submetidos a júri popular por crimes de homicídio, entre outras acusações.
Numa das postagens nas redes sociais, veiculada no facebook de “Aníbal Neto”, como se identifica o capitão anuncia uma campanha conclamando os colegas a colaborarem. “Caros amigos, estamos precisando da sua ajuda. Em virtude de um confronto armado ocorrido há alguns anos, eu e outros policiais teremos que enfrentar uma ação penal e para isso precisamos custear um advogado. Para ajudar é só participar da rifa on-line através do link https://rifa.link/2i1a Se quiser algum detalhe é só entrar em contato no privado. Ajude também compartilhando. Desde já agradeço imensamente.”, conclama Aníbal.
Mediante o pagamento de R$ 150 por número, os participantes concorrem a prêmios em dinheiro e uma arma de fogo. Na primeira postagem de Aníbal Neto o sorteio marcado para o próximo dia 29 de outubro descreve o primeiro prêmio como uma pistola G3 TORO, sem identificação de calibre, R$ 1500 para o segundo, e R$ 1000 para o terceiro.
Em seguida a postagem foi substituída por outra na qual a pistola desaparece e em seu lugar a descrição “produto no valor de R$ 4.650”, identificando a empresa Agropecuária Tomazina como provável vendedor ou doador.


Repercussão
A publicação causou mal estar na região, inclusive entre os policiais militares ouvidos pela reportagem. Na avaliação da maioria, trata-se de um caso rumoroso, que escancara o lado negativo da violência policial no Paraná, que não representa a maioria das forças de segurança, mas é uma nódoa pelo silêncio comprometedor das autoridades.
A reportagem tentou falar com o coronel Aníbal Neto, mas na 3ª Cia de Ibaiti a informação é de que ele não se encontrava na unidade e que não poderia passar seu contato. O policial que atendeu a ligação se comprometeu a entrar em contato com o comandante a quem passaria o número do celular do jornalista. No entanto, até o fechamento desta edição, não ocorreu qualquer manifestação.
Descrição de uma tragédia
Depois de seis longos anos de angustiante espera, completados no último dia 24 deste mês, finalmente a tragédia que se abateu sobre quatro família de Jundiaí do Sul, Norte Pioneiro do Paraná, poderá ter um desfecho. O Ministério Público do Estado do Paraná (MPPR), depois de exaustivas e silenciosas investigações sob comando do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), apresentou relatório ao Poder Judiciário da Comarca de Ribeirão do Pinhal, no qual denuncia nove policiais militares lotados no 2º BPM com sede em Jacarezinho, participantes de uma operação que resultou em três mortes e um ferido gravemente.
O caso teve grande repercussão por envolver quatro jovens, três deles sem qualquer passagem pela polícia, que retornavam de Curitiba onde trabalhavam, para visitar parentes residentes em Jundiaí do Sul. Ela noite de sábado, dia 24 de setembro de 2016, quando, ao se aproximarem da cidade, se depararam com viaturas da PM obstruindo a passagem na rodovia, na frente das quais estavam vários policiais sob o comando do Coronel Antônio Carlos de Morais e, sem qualquer chance de se defenderem, foram recepcionados com uma saraivada de balas que matou três rapazes na hora e um quarto, gravemente ferido foi levado ao hospital, sendo o único sobrevivente, mas com graves e irreversíveis sequelas.
O MPPR denunciou nove policiais militares que deverão ser julgados pelo Tribunal do Júri caso a Justiça concorde com a proposição da promotoria. O primeiro deles é o coronel da reserva, Antônio Carlos de Morais, seguido do coronel Aníbal Pires do Amaral Neto, Carlos Augusto Facco, Patrick de Carvalho Arantes, José Henrique da Silva, Thiago Souza da Rosa, Anderson Mario de Souza, Diego Rodrigo dos Santos de Lima e Gilmar José Elias do Prado
Tragédia anunciada
Eram três garotos cheios de sonhos. Todos tinham como profissão a mecânica de automóveis e mudaram-se da pequena Jundiaí do Sul, no Norte Pioneiro do Paraná, para Curitiba, em busca de alargar o horizonte profissional. Decidiram na tarde daquele sábado (24 de setembro de 2016), matar a saudade de suas famílias e curtir o clima festivo de uma eleição municipal agitada.
Bruno Henrique Santana Conde, 25 anos, Júlio Cesar Francisco Correa, 23 anos, e, Danilo Moraes de Pontes, 28 anos, eram garotos normais, sem nunca terem passagem pela polícia. Um quarto ocupante do carro, Claudinei Pereira da Silva, 25 anos, que pediu carona momentos antes do início da viagem, não fazia parte do rol de amizades dos garotos. Era apenas conhecido, mas sem detalhes de sua vida pessoal. Se soubessem que Claudinei era foragido da polícia por conta de ameaças contra um policial militar de Ribeirão do Pinhal, através de uma postagem feita em redes sociais, seguramente não teriam dado carona ao rapaz.
Ele apareceu na internet portando uma pistola e fazendo ameaças ao PM. Ali estava decretada sua pena de morte e, com ele, levou dois garotos inocentes e deixou outro com sequelas graves pelo resto da vida. Esse massacre cometido contra quatro jovens por alguns integrantes do 2º BPM de Jacarezinho foi comandado pelo coronel Antônio Carlos de Morais, que hoje ocupou o segundo mais importante posto na direção-geral da Polícia Militar do Paraná. Vale assinalar que dos 12 PMs que atuaram no massacre, três deles não disparam contra o carro em que estavam os jovens e, por isso, não foram denunciados pelo MPPR.
