Espaço de leitura e estudos fica numa área de apenas 42m², no município de Barra do Jacaré











Jornalista Fábio Galhardi
Especial para Tribuna do Vale
Barra do Jacaré – Há um mês se encerrou em São Paulo, a 27ª edição da Bienal Internacional do Livro, que atraiu milhares de pessoas apaixonadas pela leitura, pelo envolvente campo de descobertas e um imaginário mundo de situações que ela proporciona. Aliás, a leitura estimula o raciocínio, enriquece o vocabulário das pessoas em diferentes idades, eleva a capacidade interpretativa, assim como, oferece aos leitores, um conhecimento vasto e variado sobre diversos conteúdos.
São fatores como estes elencados e outros tantos que motivaram e nortearam o começo de toda a trajetória de envolvimento com o estímulo à leitura junto às crianças, proporcionado pela Professora Aparecida Maria da Silva Almeida, ou simplesmente, a ‘Prof. Cida’, que há 20 anos teve a iniciativa de disponibilizar para crianças, adolescentes, jovens e adultos, um espaço onde pudesse acolher os muitos livros que recebia e coloca-los à disposição para o enriquecimento do conhecimento e intelectual da sociedade barrense, através da Casa da Leitura Zélia Gattai, em Barra do Jacaré, um município de apenas 2.781 ha bitantes, conforme dados estimados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O começo – Professora Aparecida lecionou por 35 anos, exercendo sua atividade profissional na Educação nas Escolas Comandante Junqueira, no Bairro Coqueiral; na Escola Tiradentes do Bairro Coqueiralzinho; no Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Criança Feliz; e na Escola Municipal Pio XII.
Sempre estimulando os alunos da importância do contato com os livros, teve a iniciativa de escrever para Editoras pedindo livros para serem utilizados em sala de aula. Para sua grata surpresa, foi atendida, recebendo alguns importantes exemplares. Em seguida, teve a iniciativa de enviar solicitação de exemplares para os próprios autores, novamente, tendo êxito e chegando até o Município, riquíssimos escritos literários que agregaram demasiadamente sua iniciativa de aproximar os estudantes de obras atrativas. Ela lembra que, nesta época “eu tinha um armário na escola e guardava lá todos os livros que os alunos liam durante as aulas”.
Desafio – Cida recorda um momento do início desta trajetória que serviu não para desestimular, mas encorar a seguir em frente, enfrentando os desafios. É que chegou um momento que a quantidade de livros aumentou e, na escola em que trabalhava, tornou-se inviável mantê-los lá. Segundo ela a direção da escola fez algumas ponderações com relação aos escritos que eram depositados em um local e que deveria a partir daquele momento deixar a turma de segunda série e trabalhar com crianças da Educação Infantil. “A partir deste momento levei os livros embora da escola. Um dia, caminhando pelo meu bairro, lembrei que a casa da Associação de Moradores, que estava praticamente abandonada, depredada, cercada de mato, poderia servir para instalar a biblioteca. Com pertencia à Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), escrevi para a empresa falando das minhas intenções; fizeram contato comigo e me disseram que procurasse o pessoal da Prefeitura e, se eles autorizassem, estaria tudo certo. Aguardei por uma reforma que, concluída, ofereceu condições para que os livros ali permanecessem em estantes, na época, já eram mais de dois mil exemplares e inauguramos o local, com o nome de Casa da Leitura Zélia Gattai, em homenagem aos 83 escritores que até aquele momento tinham doado os livros”, enfatizou a professora.
Neste dia 9 de agosto é comemorado o aniversário de 20 anos da Casa da Leitura, tendo sido fundada em 2002. A biblioteca está num espaço ainda tímido, mas muito bem organizado, numa demonstração que sua funcionalidade é respaldada pela paixão da leitura enraizada na professora que entende que ler é desenvolver a criatividade, a imaginação, a comunicação, o senso crítico, assim como, contribui para ampliar a habilidade na escrita.
A sede da Biblioteca ou, da Casa da Leitura Zélia Gattai, está localizada na Rua Professora Maria José Guiniatti, nº 801, no Conjunto Residencial José Galdino Pereira, num espaço de apenas 42m², onde era a Associação Comunidade Solidária, proximidade do trevo de entrada da cidade de Barra do Jacaré, pela Rodovia PR-092.
Em virtude da pandemia do Coronavírus (Covid-19) a Casa da Leitura barrense ficou fechada por dois anos sendo reaberta na segunda quinzena de junho para toda a comunidade. Funciona nas terças e quintas-feiras, das 14h às 19 horas. A média de frequentadores oscila entre 15 a 20 pessoas por cada dia em que está aberta. “O acervo atual de nossa Casa da Leitura é de aproximadamente 50 mil livros, conseguidos através de doações por pessoas comuns e de escritores”, informou a Professora.
Cida, como é popularmente conhecida no bairro, pela cidade, a professora, esta guerreira da educação, da cultura, informou que a Casa de leitura foi idealizada, consequentemente implantada com o objetivo ainda de “incentivar e desenvolver o gosto pela leitura, isso porque, é uma forma de todos nós estarmos homenageando uma das melhores escritoras do País, Zélia Gattai”, disse.
Zélia Gattai – Quem é Zélia Gattai? Certamente é mais conhecida no meio literário, uma mulher que marcou sua época e deixou para a posteridade um exemplo de amor pela arte de escrever, ler, acima de tudo, a aproximação para com o próximo, se fazer presente na vida de muitos que caminham sem um sentido para suas vidas. Ela, Zélia, começou a redigir com 63 anos de idade, estreando na literatura com o livro de memórias “Anarquistas Graças a Deus”, com isso, tendo recebido o Prêmio Paulista de Revelação Literár ia. Ela viveu com o Escritor Jorge Amado durante 56 anos e, em 2001, foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a mesma cadeira do esposo, de número 23, portanto, uma justa homenagem que a Professora Cida fez a esta escritora que enriqueceu a literatura brasileira. O município de Barra do Jacaré se orgulha de ter neste espaço de leitura, exposição permanente da escritora, fotos, vídeos, cartazes, cartas e depoimentos que estão à disposição de pesquisadores e estudiosos.
Tendo como guardiã a figura religiosa de Nossa Senhora de Fátima – por ter aparecido para crianças –, a Casa da Leitura Zélia Gattai é um espaço privado, de caráter cultural, sem fins lucrativos, mantida por meio de doações, subvenções, auxílios e patrocínios de entidades tanto públicas com ainda privadas.
Ao longo dos anos de funcionamento a Casa da Leitura procura interagir com a sociedade barrense, tanto que, organizou algumas atividades culturais como: Projeto de Leitura na Prisão; Semana Antidrogas; Varal Literário; Semana Cultural; Festa de Aniversário; Entrega de medalhas, certificados e prêmios. Cada atividade desta procurou despertar em diversos setores da sociedade o maior interesse em aproximar as pessoas da leitura, principalmente, as crianças, adolescentes e jovens.
No histórico da Casa da Leitura Zélia Gattai as comemorações tiveram diferentes momentos, mas, em 2005, quando completou três anos de funcionamento, o espaço promoveu uma programação diferenciada que contou com apresentação de fanfarras da Escola Durval Ramos Filho e da Banda Municipal, ambas do município vizinho de Andirá; também aconteceu desfile de leitores mirins, baile, bingo beneficente.
A Professora Cida é, realmente, uma figura em destaque na propagação do interesse pela leitura no município. Essa dedicação chamou a atenção de muitos órgãos de imprensa, inclusive de outros Estados, atraindo equipes de reportagens da Rede Globo, Rede Record, Diário Catarinense, de Florianópolis (SC); e da Revista Profissão, de Curitiba, entre outros.
Doação – A Professora Cida informou à reportagem que a intenção nas próximas semanas é construir uma varanda para proteger as crianças. “Nós estamos pedindo doação de telhas de 3m e 66 para as pessoas amiga. Já ganhei 11 telhas, mas preciso de 20 se der pra colocar num cantinho eu agradeço”.
Recentemente foi preciso tirar uma árvore do terreno onde está a biblioteca. “Tivemos que cortar o pé de Ipê com muita dor no coração, mas as raízes estavam quebrando todo o quintal e indo para debaixo da casa. Então vamos aproveitar e fazer a varanda da casa no muro”, explicou a professora.
Questionada sobre as contas de água e luz, como faz para saudar, a Professora Aparecida informou que “as contas de água e luz eram pagas pela prefeitura na gestão dos outros prefeitos. Depois que entrou esse atual, nós pagamos a luz e tem uma vereadora que paga a água”.
No dia do aniversário a Casa da Leitura Zéllia Gattai não abriu devido às chuvas. “Os leitores já estão avisados porque o espaço dentro da Casa e mínimo, esta tudo muito apertado, eles já sabem”, disse a Professora.
Atualmente, cada pessoa pode pegar até cinco títulos por semana. “pega numa semana e devolve na outra semana, isso para as crianças. Agora, os adultos, podem ficar até 15 dias com os livros”, disse Professora Cida. Os frequentadores também podem fazer consultas ou pesquisas na Casa da Leitura Zélia Gattai que se constituiu em um exemplo de como é possível tornar a leitura um hábito, mesmo sem qualquer recurso financeiro e material ou, ainda, um elaborado projeto. Em se tratando de Barra do Jacaré, foi suficiente o desejo genuíno e a determinação sem limites de uma Professora em aproximar os livros dos cidadãos – come&cce dil;ando pelas crianças, depois para pessoas de todas as idades – para formar uma comunidade de leitores cativos. “A leitura de um livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde” – André Maurois.