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Argentina busca a Nova Independência

Não temos o hábito de criar expectativas sobre os chamados   salvadores da pátria. Até porque a historia recente nos tem demonstrado a derrocada de alguns deles que prometeram mundos e fundos e, no frigir dos ovos, não produziram o que o povo deles aguardava e necessitava. Porém, o que estamos observando na Argentina – dentro da devida distância e das barreiras político-culturais – merece toda análise. Javier Milei, o deputado libertário de primeiro mandato que decolou numa campanha eleitoral tensa e nela derrotou o peronismo-kirchnerismo, começa a governar o vizinho país. Diferente de outros governantes – que incharam a má ;quina governamental para acomodar seus familiares, cabos eleitorais e partidários – diminuiu de 18 para 9 o número de ministérios e anuncia medidas para eliminar o déficit fiscal, coisa que o ministro Fernando Haddad vem tentando aqui no Brasil mas é atrapalhado até pelo presidente da República. Com certeza, também vai privatizar estatais e tomar outras medidas típicas de um país de livre mercado.
            No seu discurso de posse, o novo mandatário argentino preveniu o povo de que a luta será trabalhosa, mas adiantou que quem deverá arcar com a grande parte da arrumação é o Estado e não o cidadão. que já amarga os males da inflação de 142% em 12 meses, da pobreza de 40% da população, desequilíbrio cambial e outros danos econômicos. A outrora rica Argentina chegou a esse ponto de degradação  por conta de políticas populistas e insustentáveis. A promessa do novo governante é mudar tudo para tentar reencontrar com o passado fulgu rante, o que chama de Nova Argentina.
            Decolado no cerne político do vizinho pais, Javier Milei sabe que tem de agir rápido e que – embora tendo derrotado nas urnas – o peronismo-kirchnerismo ainda tem seus adeptos. Não deve ignorar  que o povo argentino é politizado e proativo. Sai às ruas quando as coisas não vão bem e costuma forçar por mudanças. A sua eleição foi uma dessas correções de curso. A maior delas, no entanto, foi a de 2001, quando o povo foi às ruas e derrubou, no panelaço, o presidente Fernando de La Rua, que não conseguia dominar a economia.
            Chama a atenção o convite que o novo presidente fez ao povo argentino. Referindo-se a políticos de todas as orientaçções, empresários, sindicalistas e povo, convidou todos a se unirem na tarefa de reconstrução nacional, independente de onde estiveram e o que fizeram antes das eleições. Essa postura – que esperamos se confirme através de atos – é a chamada à reconciliação nacional, elemento que tanta falta tem feito nos países – como o Brasil – polarizado entre direita e esquerda, que se tatam como inimigas ( ou gato e cã ;o) e esquecem da grande tarefa de governar para o povo.
            O novo governo deverá, nos próximos dias, anunciar as primeiras medidas de impacto. Terá de fazê-lo com cuidado e precisão para não assustar o povo e nem abrir espaço para o ativismo dos adversários. Todos nós que vimos a Argentina convulsionar politicamente e chegar ao atual estado de crise, torcemos para que tudo dê certo e Milei seja capaz de pacificar e pilotar o novo tempo q ue prometeu aos argentinos em seu discurso de posse. Se conseguir, o sol que ilustra a bandeira argentina se converterá ná grande luz sobre o continente, em magnitude do mesmo grau ou até maior que o simbolismo de 1812, quando a peça foi apresentada pelo seu criador, Manuel Blegrano, como o estandarte da Guerra da Independência. Sem dúvida, será a Nova Independênccia Argentina, capaz de irrediar-se para toda a América.
            A nós, brasileiros, é importante que a Argentina volte a dar certo, tratar bem o seu povo e fazê-o feliz. Brasil e Argentina são as maiores economias do continente e têm muitos interesses em comum. Via-de-regra, o que é bom para um também é para o outro. Que a ideologia jamais seja capaz de distanciá-los e, num tempo bem curto, a nefasta polarização seja apenas coisa ruim do passado sem qualquer importância no presente.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 
aspomilpm@terra.com.br

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