Geral

O purgatório (e o tiro no pé) dos políticos

Dirceu Cardoso Gonçalves*

Desde que a crise política pós-abertura agravou-se, há 10 anos, o exercício da atividade não tem sido fácil. Dilma foi impichada, Lula esteve preso, Dallagnol foi eleito deputado e cassado, Sérgio Moro. hoje senador, está arriscado a ter o mesmo destino (tanto que já é visto como sangue no olhar do vampiro por aqueles que ambicionam o seu lugar). Jair Bolsonaro é a bola da vez e pode ter a inelegibilidade declarada nos próximos dias.

Um terço dos 594 congressistas – deputados federais e senadores – tem contas a acertar com a Justiça e a própria classe política não se cansa de “dedurar” os adversários, tratando-os como se fossem bandidos. Fazer política nesse país tornou-se perigoso e quase a certeza do indivíduo, em vez de ganhar o respeito pelos serviços prestados, tornar-se suspeito e até ser trancafiado.

No quadro adverso, onde político tornou-se sinônimo de coisa ruim, não é conveniente a nós, do povo, fazer juízo de valor sobre o que se fala desse ou daquele. Até porquê já vimos alguns se tornarem inimigos públicos e, depois, serem reabilitados. Então, o melhor é deixar essa tarefa de valoração para o Judiciário, cujos membros têm formação, investidura e bons salários para a executar. Não devemos correr o risco de malquerer alguém pelo que seus oponentes disseram e poder logo ser mudado (para melhor ou, até, para pior).

Por questão de segurança, os políticos, seus partidos e aliados não devem tratar o segmento como lugar de terra arrasada. Nas viravoltas que temos presenciado, não é difícil que as pedras jogadas para o alto, em vez dos adversários, caiam na cabeça do próprio atirador.
Ao mesmo tempo em que é malvisto pelo eleitorado, o político de hoje corre o risco de naufragar em problemas normalmente arranjados pelos seus opositores.

O ideal seria que todos agissem no polo positivo, trabalhando pelo bem da população, sem tentar destruir o concorrente. São muitos os exemplos em que as denúncias, na fritada final, acabam caindo sobre o próprio denunciador. E, além desse resultado não previsto, ainda há o enfraquecimento dos Poderes Legislativo e Executivo, cujas searas são frequentemente invadidas pelo Judiciário, a quem os políticos futriqueiros acabaram transferindo o “imperium” e as prerrogativas. Os excessos de que hoje se reclama por parte de juízes, desembargadores e ministros das cortes superiores nada mais do que o poder a eles transmitido no seio das denúncias e questionamento de leis e de comportamentos políticos que deveriam ser resolvidos na origem, jamais nos tribunais.

Sempre que o político recorre ao Judiciário para resolver problemas que poderiam e deveriam ser pacificados interna corporis, está dando tiros no próprio pé e reduzindo o seu espaço de atuação. E, ainda pior, está retirando de sua atividade-fim os julgadores, cujas mesas e armários são abarrotados de processos de interesse da população que passam anos à espera de decisão.

Pelo bem geral, é preciso acabar com a nefasta polarização onde adversários agem como inimigos. Embora com diferentes posições, a classe tem de ser mais contida e lembrar que está investida na função com a finalidade de representar os interesses do povo, não os próprios. Nesse particular, para ter mais legitimidade e prestígio, o político eleito para o Legislativo não deve indicar ministro e nem participar decisões do governo. Se participa, vira “sócio” e não tem a necessária isenção para cumprir o seu papel de fiscalizar em nome do povo.

A continuar como está, dificilmente a democracia sobreviverá; poderá, no máximo constituir um fantoche onde poucos mandam ilegitimamente e toda a Nação é obrigada a obedecer…

*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
aspomilpm@terra.com.br

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