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Mercado de trabalho no Brasil: a paradoxal crise dos empregos com salários que não crescem

Luiz Cláudio Romanelli

O mercado de trabalho brasileiro vive um paradoxo alarmante: enquanto o país supera marcas históricas na geração de empregos formais, a qualidade dessas posições é criticamente baixa. Dados revelam que mais de 80% dos novos empregos pagam até dois salários mínimos, com maio de 2025 registrando exclusivamente vagas nessa faixa de renda. Este cenário expõe uma distorção perversa: há emprego de sobra, mas salário de menos.

A lógica clássica da economia de mercado—que prevê pressão salarial ascendente em contextos de baixo desemprego—falha em explicar essa realidade. No Brasil, a oferta massiva de trabalhadores pouco qualificados permite às empresas manter remunerações baixas, mesmo com altos níveis de contratação. Além disso, a destruição de vagas de alta renda e a substituição por postos de baixo valor agregado rebaixam a média salarial nacional.

Após a crise econômica de 2015, um fenômeno agravou ainda mais esse cenário: o êxodo de profissionais qualificados. Segundo registros da Receita Federal, o número de declarações de saída definitiva do país disparou, com pessoas com formação superior representando a maioria entre os que deixam o Brasil. Em outras palavras, o país investiu na formação de mão de obra especializada—mas não conseguiu retê-la.

Enquanto o Brasil amarga a perda de talentos, outros países beneficiam-se dessa diáspora qualificada. Nações como Alemanha, Canadá e Austrália recrutam ativamente brasileiros em setores estratégicos como tecnologia, saúde e engenharia, oferecendo salários competitivos e condições de trabalho dignas. Este “subsídio involuntário” à economia global—onde o Brasil arca com os custos de formação, e outros países colhem os frutos—aprofunda as desigualdades estruturais e compromete o potencial de desenvolvimento nacional.

A fuga de cérebros agrava outro problema crônico: a baixa produtividade do trabalhador brasileiro em decorrência da falta de aplicação de avanços tecnológicos pelo setor produtivo. Estudos mostram que um brasileiro leva uma hora para produzir o que um americano faz em 15 minutos. Essa deficiência está diretamente ligada à perda de profissionais qualificados para o exterior e à precarização do mercado interno, além do custo do capital para a modernização tecnológica. Sem mão de obra especializada, empresas nacionais perdem capacidade de inovação e competitividade internacional.

Além disso, a desigualdade salarial amplia-se. Enquanto profissionais remanescentes em setores de baixa renda enfrentam estagnação financeira, os que emigram garantem remunerações até 5 vezes superiores no exterior. Este abismo contribui para um ciclo vicioso: o país fica preso em atividades de baixo valor agregado, enquanto nações desenvolvidas aceleram seu crescimento com talentos importados.

Para romper esse ciclo, o Brasil precisa ir além de gerar vagas: é urgente criar políticas integradas que conectem educação às demandas do mercado, garantam incentivos para reter talentos e firmem parcerias internacionais em condições de reciprocidade. O paradoxo do nosso mercado de trabalho — vagas em abundância e salários em escassez — não será resolvido com paliativos. Ou transformamos o capital humano em prioridade nacional, valorizando quem fica e criando condições para que os melhores não precisem partir, ou seguiremos sendo o país que forma para exportar cérebros e importar desigualdade. O desenvolvimento exige mais que empregos: exige dignidade salarial. A escolha é política, estratégica — e inadiável.

Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e líder do PSD do Paraná

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