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Prêmio Jabuti destaca livro de paranaense que traduz ciência da computação teórica para todos os públicos

Em “A Máquina da Natureza: uma Perspectiva Cronológica da Ciência da Computação Teórica”, professor da UFPR, André Vignatti, revela a profundidade da ciência da computação teórica e sua conexão com a sociedade

O professor André Vignatti, do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), recebeu o Prêmio Jabuti 2025 na categoria Ciência da Computação com seu livro A Máquina da Natureza: uma Perspectiva Cronológica da Ciência da Computação Teórica. A obra pioneira traz uma abordagem inovadora que vai além das aplicações práticas da computação, destacando o caráter filosófico e natural dessa ciência fundamental.

Ao contrário do entendimento comum que associa a ciência da computação apenas a tecnologias e soluções imediatas, Vignatti reforça em seu livro que a computação teórica lida com questões profundas sobre os limites do pensamento racional, o equilíbrio entre determinismo e aleatoriedade, e a própria essência da computação, ancorada na tese de Church-Turing — um conceito que propõe um modelo universal para todo tipo de computação.

“Não trabalhamos com uma ciência cujas principais questões são as aplicações tecnológicas. Pelo contrário, as novidades tecnológicas muitas vezes ofuscam os objetivos mais profundos da área, que se conectam a questões filosóficas e naturais. Meu objetivo com o livro é justamente explicitar esses objetivos”, comenta o professor.

Um dos destaques da obra é o tratamento da informação como um elemento tão fundamental quanto a matéria e a energia na compreensão da natureza. A ciência da computação teórica, ao estudar a manipulação abstrata da informação, ajuda a explicar desde o funcionamento do DNA até as complexas implicações sociais e éticas da era digital. “Para a ciência da computação, a cor de uma maçã pode ser representada de forma simples, com três números indicando vermelho, verde e azul, o que abre caminhos para manipular e estudar a natureza a partir da informação”, aponta o pesquisador.

Além do conteúdo rico e interdisciplinar, o livro é escrito em linguagem acessível para especialistas, estudantes e leigos. Vignatti destaca o desafio de traduzir temas complexos para o público geral: “O maior desafio foi encontrar formas adequadas para explicar conceitos como reduções e pseudoaleatoriedade. Gastei muito tempo até obter explicações intuitivas que funcionassem”, afirma Vignatti. A recompensa vem ao ver que o material ajuda a formar uma compreensão real da ciência da computação teórica — “Alguns alunos vieram me agradecer por finalmente entenderem a ideia de ‘redução’,” relembra o professor.

O impacto do Prêmio Jabuti para a ciência da computação no Brasil

Para Vignatti, vencer o Jabuti significa mais do que um reconhecimento pessoal. “O prêmio é fundamental para valorizar o trabalho de autores que dedicam tempo e esforço à escrita, algo que nem sempre é valorizado em métricas acadêmicas tradicionais. E também para dar visibilidade à ciência da computação teórica, que representa apenas cerca de 10% da pesquisa na área”, aponta o pesquisador. Ele ressalta que a visão pública da computação está muito atrelada às aplicações práticas e à inovação tecnológica, enquanto o entendimento dos fundamentos teóricos ainda é limitado — um cenário que seu livro contribui para transformar.

Perguntado sobre o futuro da área, Vignatti reconhece os desafios e as transformações causadas pelo aprendizado de máquina e a inteligência artificial. “O sucesso do aprendizado de máquina transformou a ciência da computação em algo mais próximo da engenharia, distanciando teoria e prática. Ainda não vejo um caminho simples para essa aproximação, mas ainda assim a área teórica tem enorme potencial”, afirma o autor premiado.

Ele também destaca campos sociais emergentes onde a computação teórica pode contribuir substancialmente: “Questões como ética, justiça, privacidade, comunicação e meio ambiente são algumas das áreas onde a computação teórica já oferece ferramentas poderosas”, conclui o professor da UFPR.

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