Luiz Cláudio Romanelli

Nesta semana, entre os assuntos que pautaram a atenção dos brasileiros, a saída do país do Mapa da Fome é um deles, o que nos leva à várias reflexões. É mais do que auspicioso, a superação novamente da principal e vergonhosa chaga da humanidade, ligada intrinsecamente às desigualdades sociais que ainda persistem na maioria das regiões do planeta. Acabar com a fome é um desafio mundial elencado pela ONU nos objetivos do desenvolvimento sustentável até 2030.
Comer bem e ter acesso a uma cesta de alimentos saudáveis é também um desafio premente e que significa também enfrentar os ultraprocessados. Uma má alimentação traz uma série de malefícios à saúde em todas as faixas etárias e alcançam sobremaneira as crianças e adolescentes que hoje enfrentam comorbidades como a obesidade, diabetes, hipertensão e doenças crônicas.
Enfrentar a fome, como todos devem saber, é prioridade zero, e garantir uma alimentação de qualidade e saudável, é prioridade um para a segurança alimentar e para a qualidade de vida. E o Paraná, mais uma vez, é exemplo e está na frente nas duas pontas.
Vou contextualizar: além das políticas compensatórias, os especialistas apontam que o aumento de renda, do salário mínimo e a criação de mais empregos levaram o Brasil a sair do mapa da fome tal como em 2014.
E o Paraná teve o maior crescimento econômico do Brasil nos primeiros cinco meses de 2025, com 6,9%, apontou o Banco Central. É o dobro do resultado nacional no período, que foi de 3,4%. O PIB estadual cresce acima da média nacional. No primeiro trimestre de 2025, a atividade econômica no estado aumentou 8,5%, enquanto a média nacional foi de 3,7%.
Em 2024, o Paraná alcançou a sexta maior renda domiciliar per capita do país, com R$ 2.482, superando em 20% a média nacional. O estado se destaca pela baixa desigualdade de renda, com o quarto menor índice de Gini do Brasil, indicando uma distribuição mais equitativa da riqueza, segundo o IBGE. O Paraná também foi o terceiro estado que mais gerou empregos entre janeiro e maio de 2025, com 84.882 novos postos de trabalho. Este crescimento é registrado em 81,7% as cidades paranaenses.
As boas notícias da macroeconomia do estado acompanham a participação histórica da agricultura familiar no enfrentamento destes dois desafios na segurança alimentar dos paranaenses. Responsável por 70% do alimento na mesa do paranaense, os produtores representam 75% dos empreendimentos rurais no estado e estão na linha de frente do respeito ao meio ambiente, à terra e à biodiversidade.
Fiz questão de destacar esses predicados na quinta-feira, 28, nas comemorações dos 62 anos da Fetaep e externei também a importância dos 10 programas de incentivos estaduais como o Compra Direta, Paraná Coopera, Leite das Crianças e Trator Solidário que somados à ampliação do Pronaf e de programa federais de aquisição de alimentos e de alimentação escolar são fundamentais para fortalecimento da agricultura familiar e para encerrar o ciclo da alimentação ultraprocessada.
Também destaquei no encontro da Fetaep que desde 2020, o Paraná tem uma lei e uma meta que até 2030, todas as 2.088 escolas estaduais terão 100% da merenda com alimentos orgânicos e espera-se a adesão das prefeituras nas 4.982 escolas municipais públicas. E para isso, mais uma vez, a agricultura familiar é o principal caminho para alcançar esta meta.
Vejam o exemplo de um estudo da Friocruz, divulgado nesta semana, em escolas de quatro cidades brasileiras entre 2022 e 2025. Esta pesquisa corrobora a determinação paranaense e levou a conclusão óbvia: leis que proíbem a venda de produtos ultraprocessados (salgadinhos, refrigerantes e biscoitos recheados) em escolas contribuíram para melhorar a qualidade da alimentação e da saúde de crianças e adolescentes.
Os resultados da coleta em 200 cantinas de escolas em Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Niterói mostraram que as cidades com regulamentações tiveram melhor pontuação no Índice de Saudabilidade – indicador que mede a qualidade da alimentação e de hábitos saudáveis.
A pesquisa excluiu as escolas públicas que recebem alimentos do Programa Nacional de Alimentação Escolar que seguem diversas diretrizes para garantir a saudabilidade.
Esta também é a diretriz dos programas estaduais de incentivo à agricultura familiar que fornece alimentos saudáveis à entidades (creches, asilos, escolas), restaurantes populares, cozinhas comunitárias e hospitais filantrópicos e centros de referência social.
No Paraná, a lei 16.751/10, da alimentação escolar orgânica, também vai ampliar a produção dos agricultores familiares. O estado tem o maior número de propriedades rurais certificadas em agricultura orgânica. Além disso, conta com o programa Paraná Mais Orgânico, que ajuda os produtores orgânicos a certificarem a propriedade e dá apoio na comercialização da produção.
Superar o consumo de ultraprocessados vai ao encontro das políticas públicas de apoio e de incentivo ao campo e de uma regulação mais eficaz deste mercado. A alimentação saudável nas escolas e nas casas passa pela inclusão socioprodutiva de agricultores familiares e pela melhoria da infraestrutura rural e pelo estímulo ao empreendedorismo da agroindústria familiar.
E o que a agricultura familiar produz historicamente, chega-se agora ao senso comum que o alimento quando mais perto da gente, sempre é de melhor qualidade. O Paraná tem gratidão e respeito a todos que cuidam da terra e produzem o alimento saudável ao povo.
Luiz Cláudio Romanelli, especialista em gestão urbana, é advogado e deputado estadual pelo PSD do Paraná