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Entrevista com uma vítima das chuvas RGS

“É um cenário de guerra”, conta empresário, que está ajudando com marmitas

Empresário Junior Polazzo, 31, e sua esposa, Vitória, 28, fazem parte do time de futebol Rosário Esteio, que se transformou em um grupo de ajuda aos desabrigados

Por Tribuna do Vale

“Acordei no sábado, 4, bem cedo, ouvindo um barulho estranho na rua. Moro no primeiro andar de um prédio no bairro Matias Velho, em Canoas, RGS.  Saí na janela e pensei que estava dentro de um cenário, onde as pessoas estavam deixando a cidade, como nos filmes de guerra, ou de catástrofes. Todos com mochilas nas costas e andando muito rápido. Chamei minha esposa, Vitória, e saímos para nos informar. Havia uma ordem de evacuação. Reunimos alguns pertences, também colocamos em mochilas e saímos. Se tivéssemos demorado, não teríamos conseguido. A água subiu até a entrada do prédio em poucos minutos”, contou o morador Junior Polazzo, 31 anos, empresário da Titanium Extintores Ltda, casado com a dentista Vitória Lima, 28 anos.

Catástrofe

O casal mora e trabalha em Canoas e já passou por outras situações complicadas por causa do clima, mas nada parecido com o dilúvio que atingiu o Estado desde o inicio deste mês. Chuvas torrenciais causaram enchentes, transbordaram rios e lagos e chegaram a romper barreiras. Até ontem, o Estado já havia contabilizado 100 mortes confirmadas.  Outra centena de pessoas estão sendo consideradas desaparecidas. Das 497 cidades que formam o Rio Grande do Sul, 425 foram atingidas pelas chuvas.

União nunca vista

O povo gaúcho se abateu, lamentou, chorou, se escondeu, blasfemou!!!! Depois levantou, limpou as lágrimas e foi à luta. Havia gente viva, aguentando há dias em cima de telhados esperando por salvamento, havia animais boiando nas águas ou perdidos em uma faixa de terra seca, mortos de fome e de sede. Era hora de enfrentar a tragédia.

O resto do País estava assistindo tudo sentado no sofá, até que viu e ouviu relatos que o coração de um ser humano não suporta. Então, gente de todo canto começou a ajudar. Muitos fazendo doações de roupas, cobertas, comida, água. Empresas e empresários ajudaram inclusive, com helicópteros de resgate. Um dos milhares de vídeos divulgados na internet e na TV mostram a solidariedade do brasileiro. Um deles é de um comboio de barcos, Jet Sky e lanchas, que cruzou parte do País – saiu de Goiás em direção ao Rio Grande Sul. Por onde passava, o comboio aumentava e uma voz dizia: “Estamos chegando Rio Grande do Sul. Aguentem, força!!!!”.

A tragédia é tão grande e tem causado tanta destruição que uma repórter que cobriu o tsunami no Japão, disse que ambas as catástrofes são muito semelhantes.

Não vamos esperar, vamos à luta

Com as águas, vieram as grandes perdas. Não apenas a agricultura e pecuária pujantes do Estado foi destruída, mas cada um dos moradores teve algo a lamentar.

“Somos jovens, vamos à luta”, disse o empresário Junior. Ele faz parte de um time de futebol, Rosário Esteio, que fora dos gramados, também pratica uma série de ações junto à comunidade. “Nos reunimos e resolvemos que íamos ajudar. Conseguimos “piquetes” (pequenos imóveis de madeira), que estão servindo de base para arrecadação e distribuição de roupas, água, alimentos e até comida pronta, em marmitas. “Estamos trabalhando desde o dia 3, 24 horas por dia. Há toda uma logística. Minha esposa, por exemplo, contou que ontem, ela dobrou mais de mil peças de roupas, deixando prontas para doação. Um dos piquetes funciona apenas para mantimentos e produção de comida para entrega. Outro só recebe roupas, cobertores e colchões”, contou.

A ação dos jogadores do Rosário Esteio e seus familiares está atendendo desabrigados das enchentes das cidades de São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Esteio e de Canoas. No começo, eles conseguiam distribuir 50 marmitex por dia. Depois, acertaram a logística e até ontem já entregavam cerca de 230.

“Precisamos de água, muita água. Roupas e alimentos não perecíveis”, avisou.

“Uma coisa você pode estar certa. Se não fosse o povo gaúcho, mesmo atingidos pela tragédia e se não fosse o povo brasileiro, esses números de mortes e desabrigados seriam muito maior”, afirmou salientando que as autoridades municipais, estaduais e federal não souberam enfrentar as chuvas torrenciais.  “Se o povo não tivesse arregaçado as mangas, o Rio Grande do Sul seria hoje uma grande tragédia mundial”, concluiu.

“Não vou me esquecer”

 Junior Polazzo explicou que o bairro onde ele e a esposa moram é praticamente o único de Canoas, que manteve uma faixa estreita de terra seca, que é onde os desabrigados estão ficando e também de onde saem e voltam embarcações de resgates. “

Nesse lugar, eles presenciaram muitas situações. Umas alegres outras tristes e outras para refletir. “Uma das cenas que mais me marcou esses dias, foi a de uma criança que chegou em um jet sky. Ela foi resgatada sozinha. Fiquei pensando onde estariam seus pais, familiares. Será que estavam vivos, será que entregaram a criança para salvamento, enquanto esperavam uma oportunidade? Será? Meu Deus, quando a gente vê e participa de uma tragédia como essa, nossa cabeça sabe tudo o que pode acontecer. Estamos ali, vivenciando. Espero muito que essa criança encontre seu pais. Penso nela direto”, comentou.

Rosário Esteio, um time de futebol que não deixa a bola cair

Quem quiser mais informações sobre o trabalho do grupo de Junior Polazzo, é só entrar no instagran “ @rosarioesteio”, que é um time de futebol, que desde 2010 se envolve em causas sociais e trabalhos voluntários – um grupo com mais de 60 pessoas envolvidas.

No instagran do time também possível encontrar, diariamente, uma prestação de contas do uso do dinheiro que tem chegado por meio de Pix e das doações de alimentos, roupas, água, etc. “Está tudo no @rosarioesteio” informou o empresário Junior.

Lá também tem uma tabela das chaves PIX para quem quiser ajudar.

As doações estão acontecendo com distribuição no local e entregas de marmitas, mantimentos e rações onde as pessoas mais necessitam, mediante combinação com os abrigos.

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