“Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova”. – Mahatma Gandhi
Luiz Claudio Romanelli
Registra a história que o Planeta Terra sofreu uma pandemia causada por um vírus desconhecido, que se espalhou entre os países e causou milhões de mortes. A doença era facilmente transmitida pelo contato direto, tosse ou pelo ar. Os que adoeciam tinham febre, dor no corpo, coriza e tosse. Quadros mais agudos evoluíam rapidamente para graves problemas respiratórios e óbitos.
No Brasil, muita gente foi enterrada como indigente e em valas comuns. Faltaram leitos, médicos e enfermeiros nos hospitais. Não havia insumos e remédios. Tinha muito improviso para cuidar dos doentes nas unidades de saúde. Pacientes foram espalhados por barracas e edificações foram reutilizadas para fins ambulatoriais.
Os efeitos da infecção eram novidade para a medicina e a ciência. Isolamento e distanciamento social foram necessários. Recomendou-se o fim de aglomerações e a máscara como uma das armas contra a contaminação. A virulência do contágio resultou em quarentenas, com lojas, bares, restaurantes, empresas e escolas fechadas. Torneios esportivos e apresentações artísticas foram cancelados ou adiados.
Houve diversas tentativas de conter a transmissão viral e curar a doença com as medicações disponíveis, sem sucesso. Não faltaram apóstolos de tratamentos alternativos, sem qualquer eficácia. Uma das ideias mais propagadas era o uso de sal de quinino, receitado para a malária e que desapareceu das farmácias. O produto chegou a ser distribuído gratuitamente para a população.
A pandemia que retrato acima é a da gripe espanhola, que assolou o mundo entre 1918 e 1920. A infecção deixou 50 milhões de mortos em três ondas de transmissão. Há diversas semelhanças entre aquela tragédia humanitária e a pandemia de covid-19 que nos assola. Diferente do que ocorreu no século passado, o período de dois anos não foi suficiente para fazer a doença transmitida pelo coronavírus desaparecer.
Hoje temos as vacinas, que salvam vidas, mas a covid-19 segue infectando diariamente, em média, 1,7 milhão de pessoas pelo mundo. O volume de mortes caiu extraordinariamente, contudo o luto continua afetando milhares de famílias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) contabiliza 5,4 mil mortos por dia. No Brasil, a quantidade de óbitos está em 330, de acordo com a média calculada entre 4 e 17 de março.
A pandemia não acabou, portanto. Prova disso é que a China impôs um lockdown a 37 milhões de pessoas em razão de um surto classificado como a pior onda de infecções desde o início da pandemia. O número de casos neste ano já é maior que a soma de 2021. A quarentena acontece em diversas províncias, com alertas na capital Pequim e grandes cidades, como Xangai e Shenzen.
Dados de Hong Kong dão a medida do perigo que o coronavírus ainda representa. Até o início deste ano, a cidade de 7 milhões de habitantes registrava 259 mortes por covid e era considerada modelo no combate à pandemia. Em três meses o número subiu para quase 4,6 mil óbitos, estressando o sistema de saúde e necrotérios. Numa das áreas mais ricas do Planeta, faltaram caixões.
Entre o final de fevereiro e o início de março a doença avançou no Reino Unido, Áustria, Holanda, Grécia, Alemanha, Suíça e Itália. Conforme dados da Universidade Johns Hopkins, que rastreia a evolução da pandemia, as infecções provocaram alta no número de internamentos em diversos países europeus.
A explicação encontrada até agora para o novo avanço da doença é comportamental. Com o afrouxamento das restrições de mobilidade e das medidas não farmacológicas, as pessoas deixaram de adotar os cuidados de higiene recomendados para evitar a transmissão do vírus. Além disso, na Europa, as duas doses de vacinas chegaram a 72% da população, mas a dose de reforço foi procurada por apenas 52% das pessoas.
Faço este relato não para ser o profeta do caos. Longe disso. Mas me sinto na obrigação de seguir estimulando a manutenção dos cuidados e do alerta sobre a gravidade da doença, mesmo que grande parte das pessoas já tenha sido vacinadas. Aliás, registro o louvável esforço do Governo do Estado no enfrentamento da pandemia e na campanha de vacinação, que imunizou mais de 10 milhões de paranaenses.
O fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços abertos é uma conquista da maioria da sociedade, que repudiou as teses negacionistas e antivacinas. Esta imensa maioria entendeu que o direito à saúde se sobrepõe a todos os outros e tratou a questão tecnicamente, amparada na ciência e sem se contaminar pela discussão ideológica ou política.
É essa atitude responsável que deve nos guiar. Vamos manter a proteção facial em ambientes fechados ou com aglomeração porque o envolvimento de cada um de nós ainda é essencial para chegarmos num patamar de segurança total. Neste momento, o respeito à própria vida e à dos outros é o maior ato de civilidade que podemos adotar. Cuidem-se!
Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual.