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S.A.PLATINA – Além do sucateamento, falta de ambulância UTI complica a situação de pacientes graves

Gladys Santoro

Há meses, o Portal Tá No Site vem alertando a população e as autoridades regionais sobre o problema que o sucateamento das ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) vem causando, inclusive, com riscos à vida tanto de motoristas quanto de pacientes. Só que além disso, Santo Antônio da Platina ainda sequer conta com o serviço de uma ambulância de suporte avançado, mais conhecida por ambulância UTI.
A falta dela causou transtornos na noite de ontem (31/05), quando uma mulher com sete meses de gestação deu entrada no Pronto-Socorro Municipal com problemas de pressão alta. A moça foi atendida no local e estabilizada para poder ser transferida para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional do Norte Pioneiro, também com sede em Santo Antônio da Platina. Porém, das duas ambulâncias do Samu que atendem a cidade, nenhuma estava em condições de rodar. Uma delas está em cima de um caminhão para ser levada para a oficina do Samu em Cornélio Procópio, e a outra estava chegando do conserto quando quebrou novamente e precisou ser guinchada para a oficina daquele município. E para ser atendido pela de suporte avançado, é preciso pedir para Jacarezinho, Ibaiti ou Cornélio Procópio, únicas cidades mais próximas, que possuem esse tipo de Serviço Móvel.

Por volta das 22h30, uma ambulância UTI, de Jacarezinho, chegou ao PS e fez o transporte da paciente. Segundo um amigo da gestante, ela ainda se encontra na Unidade de Terapia Intensiva e não se lembra do que ocorreu ontem. “O caso dela foi muito grave e ainda inspira cuidados. Ela foi para o PS às 19h e a ambulância só chegou por volta das 22h30. Entendo que esse problema já chegou ao seu limite. Se o município precisa de uma ambulância UTI então vamos correr atrás. A prefeitura pode pedir ajuda aos deputados ou mesmo elaborar uma campanha entre os empresários da cidade. O importante é socorrer os pacientes na hora em que eles mais necessitam”, disse.

Uma luta que já dura 5 anos – A falta de ambulância UTI em Santo Antônio da Platina vem sendo uma luta do radialista Juninho Queiroz, que já dura anos. “Tudo começou há 5 anos, quando minha mãe faleceu. Ela era técnica em enfermagem e quando ficou doente esperou muito por uma ambulância UTI Móvel, que demorou quase três horas de Ibaiti para cá. Hoje em dia, a necessidade aumentou. O Hospital Nossa Senhora da Saúde já está até realizando cirurgia bariátrica. O Hospital Regional do Norte Pioneiro é referência e reúne inúmeros pacientes em várias áreas. Em breve teremos o Hospital do Câncer aqui. Quero dizer: se há cinco anos já era preciso, imagina agora e daqui para frente?”, disse.

Segundo o radialista, o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Norte do Paraná- Cisnop – que gerencia o Samu em 43 municípios da região, deveria colocar na balança todas essas situações e destinar uma ambulância UTI para Santo Antônio. “Ibaiti, Cornélio e Jacarezinho contam com esses veículos. Não dá para entender o motivo de não destinarem uma para Santo Antônio. Para transferir um paciente do Nossa Senhora da Saúde para o Regional é um sacrifício enorme. Veja a situação: Temos que recorrer para outras cidades, há quilômetros de distância, para fazer uma transferência dentro do nosso próprio município”, disse inconformado. “É uma situação vergonhosa. Quero que nossa cidade tenha uma ambulância UTI através do Consórcio. O município contribui financeiramente com ele. Temos UTI aqui. Precisamos de uma dessas”, reafirmou salientando que a saúde municipal também tem que adquirir uma própria “Só o Samu não vai dar conta. É muito cômodo para a saúde municipal de Santo Antônio ficar apenas esperando chegar um veículo equipado do Consórcio. Conheço, inclusive, o problema da regulação de leitos, que é feita pelo Samu. Isso é importante, mas tem gente morrendo. Não dá para esperar três, quatro horas por uma ambulância do Samu, como foi o caso desta gestante e tantos outros que eu mesmo presenciei. Me falaram que o custo é alto para manter uma, mas vale a pena investir na saúde da população”, comentou.

Sucatas – Juninho ainda relatou alguns casos ocorridos por conta do estado de sucateamento das ambulâncias que atendem Santo Antônio. “A cidade só tem essas viaturas simples, conhecidas por ‘canelas secas’, e até elas estão nos deixando na mão. Presenciei, esses dias, funcionários do Samu levando um paciente a pé para o hospital. É o fim do mundo. E pensar que eles estão até com os salários atrasados por causa da empresa que gerenciava o serviço na região e que teve suas contas bloqueadas por questões trabalhistas. Agora, o Consórcio contratou outra, mas ouvi dizer, não sei se é verdade, que ela é do mesmo grupo da antiga. Então, temos que cobrar por mais transparência no Serviço. Também pagamos por ele”, concluiu.

Saúde Municipal – A secretária municipal da Saúde, Gislaine Galvão, se pronunciou sobre o problema das ambulâncias. Segundo ela, a cidade conta com duas simples do Samu, e quatro do município, porém, nenhuma delas é de suporte avançado, ou seja, as conhecidas ambulâncias UTI. “Há dois anos estamos tentando uma avançada do Samu. O pedido tem que ser feito diretamente no Ministério da Saúde. Esta semana o presidente do Cisnop, prefeito de Santa Cecilia do Pavão, Edmar Santos, esteve em Brasília reforçando o pedido. Os trâmites legais são complicados e demorados, mas está em andamento. O que estamos fazendo aqui é preparar uma equipe e uma ambulância para auxiliar nas ocorrências enquanto o Consórcio não resolve o problema com os veículos”, disse salientando que mesmo que a cidade disponha de um veículo próprio e equipado para UTI, ainda é necessário que o Samu mantenha uma no município, porque é ele o responsável pela central de leitos. “Quem faz a regulação de leitos em toda a região é o Samu. Não adianta apenas termos uma ambulância avançada se não tivermos para onde levar o paciente”, explicou salientando que Santo Antônio tem toda a estrutura necessária para receber uma ambulância UTI do Samu. “Temos tudo o que é exigido. Temos estrutura para isso”, afirmou.

A secretária lembrou, ainda, que em 2023, a gestão do Samu será dividida. “22 dos 43 municípios da região, que hoje são coordenados pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde do Norte do Paraná – Cisnop – sediado em Cornélio Procópio, ficarão sob gerenciamento do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Norte Pioneiro, de responsabilidade da 19ª Regional de Saúde, com sede em Jacarezinho. O restante ficará com a 18ª Regional, por meio do Cisnop. Essa medida será de extrema importância para nós, já que cada consórcio gerenciará um número menor de municípios, o que facilitará em todas as nossas necessidades”, afirmou.

Quanto ao caso da gestante que passou mal ontem e precisou ser transferida do PS para o HRNP, a secretária disse que a demora não ocorreu pela falta de ambulância. “O que aconteceu é que a mulher deu entrada no Pronto-Socorro e foi atendida pelo médico, que precisou estabilizá-la antes de providenciar o transporte. Nenhum paciente em estado grave pode ser transferido antes de estar estável. Na verdade, ela só foi considerada apta para a transferência por volta das 21h40. A ambulância chegou pouco tempo depois”, contou.

Samu – Segundo o coordenador do Samu na região, Kassiano Basso, hoje mesmo deve chegar outra ambulância em Santo Antônio da Platina para substituir as que estão no conserto. “Já saiu de Cornélio”, garantiu.

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